O tema sugere a importância de um espaço-tempo para sonhar. Esse lugar pode ser representado de várias maneiras, e este vídeo passou por várias fases, vários caminhos foram tentados e abandonados, comecei por utilizar uma série de fotografias que encontrei no meu Google Photos sobre uma visita às grutas da moeda, em Fátima, nesses tempos trabalhava em engenharia de telecomunicações e ia frequentemente àquela zona em trabalho, e numa dessas ocasiões visitei essas grutas, que achei deslumbrantes, e tirei umas dezenas de fotografias.
Achei que fazia sentido usar as grutas para o tema da minha casa, o Rapha, autor da letra, gostou da ideia por manter a coisa indefinida, já o Tó não achou, as suas palavras foram qualquer coisa como: 'só se fosse neandertal ou morcego'. Resolvi então manter a ideia mas só para a parte do RAP, que dura quase um minuto, mais propriamente 53 segundos.
Tinha também fotografias sobre casas, a minha de férias em Coruche, outras que fotografei na Bélgica de visita, no Kuwait enquanto lá vivia, mas a coisa não funcionou, abandonei e comecei de novo. A Mariana deu a ideia de usar caracóis, ou moluscos, daqueles que andam com a casa às costas, em vários cenários; ainda esbocei a tentativa, da qual sobrou um plano de 10 segundos, na ponte logo a seguir ao RAP, mas também abandonei esse caminho. E finalmente a Mariana propôs que a minha casa fosse o próprio planeta terra, e tudo começou a fazer sentido. Era um caminho já tentado no vídeo do "Achas que chega", mas de uma forma diferente, desta vez não íamos focar a destruição dos habitats, mas sim os próprios habitats que ainda existem em bom estado na natureza - escolhi imagens de bosques e cascatas, que descarreguei do website www.videvo.net.
Quase a chegar ao fim do vídeo, uma mulher a olhar para uma queda de água junto ao mar, e no final um homem que olha o trânsito duma janela sobre uma rua movimentada, numa cidade moderna, de noite, o seu olhar não se vê, nem o da mulher, mas o dele imagina-se ausente, inquieto, insatisfeito, vazio, e o dela sonhador, contemplativo.
Portanto, a minha casa é a natureza? E a minha casa na cidade não? Não é bem isso. Temos a mesma natureza que a natureza, passe o pleonasmo, viemos de lá, portanto apreciamos a natureza, gostamos dela. E somos pequenos nela. Ela é grande, grandiosa, e nós temos uma dimensão justa. Ela dá-nos abrigo, cuidados, a nós e aos animais. Podemos viver numa cidade, mas convém-nos saber isso, respeitar-nos, respeitar a natureza, os animais.
E será que a terra tem um sonho, um plano? E será que o Universo inteiro tem um plano? E que são os nossos planos quando comparados com um plano dessa dimensão? Da dimensão do sol? O sol terá um plano também? Ou levanta-se como quem vai ao emprego todos os dias com ar de frete, a repetir-se, sem sentido? Porque será que nunca sai da sua trajectória? Terá um plano, um sonho também? Eu sonho que tanto o sol como a terra têm um plano e um sonho, mas seja como for, sonhando ou não com isso, são capazes de nos proporcionar um espaço-tempo para estarmos, sim a nós homens, e para nós, apreciar esse espaço-tempo é merecê-lo.
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