sábado, 19 de junho de 2021

Gosto e não gosto

A minha melhor composição até hoje chama-se "Gosto e não gosto". Já foi há uns anos que a deixei de ouvir, do álbum 'A hora do lobo', mas quando recentemente resolvemos repescar temas antigos do Contentor, para completar uma eventual atuação ao vivo, que pode acontecer ou não este verão, quando a recordei, sentenciei: é a minha melhor composição - musical bem entendido, porque à letra só dei o título, que sugeri ao Miguel, que escreveu o resto. Os primeiros acordes são algo parecidos com uma canção de uma banda da minha juventude, mas depois a canção evolui por si mesma de forma bastante original. Mas é sobre o tema da canção que me apetece escrever: "Gosto e não gosto".

Acabo de ler o Mia Couto no seu 'mapeador de ausências', fazem-me falta livros assim, só quando acabei é que dei conta da companhia que me fez esse livro, quem não lê corre o risco de perder um bom amigo todos os dias. Gostei e não gostei. Faz falta haver sempre algo de que não se gosta também. Opto por não começar logo "A mulher do quimono branco", Ana Johns, que está já na calha. É que fiz uma subscrição de 5,99 por mês no meu ebook, passe a publicidade, assim já sei o que vou ler a seguir. Boas prendas estes ebooks que demos um ao outro no natal passado, eu e a Quica, a minha mãe completou as prendas com as respetivas capas.

Em vez de começar a ler o próximo pus-me a escrever estas banalidades, já que também a mim, tal como a ele, me faltam as palavras para espantar os meus fantasmas, quando os procuro para me redimir já lá não estão, quando os evito acenam-me outra vez, como quem diz: é melhor aprendermos a viver juntos, porque nunca nos vamos ir embora. Chama-se a isso o passado, aquilo que não se pode tocar. Enquanto isso o futuro, como ainda não está cá, abstém-se. 

Já deixei de ter futuro. Isto é apenas uma constatação, o que em nenhum sentido é negativo, antes realista. É até positivo, ainda bem, gosto de ser realista, aproxima-me da verdade. O equívoco maior que observo nos que me rodeiam é confundir a felicidade com o realizar dos sonhos. Isso é um equívoco. A felicidade não é o realizar dos sonhos. Ou melhor, será o realizar dos sonhos mais profundos, que nem sabemos que temos, mas não o realizar dos sonhos emprestados pela nossa educação, auto-convencimento, etc. e tal. Felizmente pertenço a uma geração que se rebelou contra o status quo, o dos sonhos emprestados pelas gerações anteriores.

Lembro-me a propósito do pianista Chic Corea de pé no palco do coliseu de Lisboa, a dizer ao público que o ovacionava no fim do espetáculo: "I must be happy" - e eu interpreto o que ele quiz dizer assim: quem não ficaria feliz com isto, excepto eu? Porque eu... eu só fico feliz quando me distraio de mim com qualquer coisa, por exemplo a tocar... só então me encontro, quando me distraio de mim. Subentendi que ele queria dizer: "agora assim a baterem palmas não consigo".

Portanto, em vez de 'gosto', prefiro 'gosto e não gosto', não creio que vá algum dia haver essa opção nas redes sociais. É demasiado ambígua. Mas traduz este cenário, em relação ao que gostamos realmente, é que pode vir - e vem - encapsulado com o que não gostamos. Vou dar um exemplo, uma das memórias que guardo para sempre como momento feliz passou-se de noite, numa ocasião em que fui apanhado fora de casa sem guarda chuva e sem ter onde me abrigar, e me foram literalmente despejados sobre a cabeça baldes e baldes de água da chuva, até que desisti de me abrigar e a recebi e braços abertos, rindo a bandeiras despregadas - no entanto, se me perguntarem, não, não gosto de apanhar chuva. Donc concluo: só se é feliz se... obrigado. 

Para ouvir: https://drive.google.com/file/d/1qzI5MqD-N2__hEGrmrFvp0jsIFK9ajsr/view?usp=sharing

segunda-feira, 14 de junho de 2021

Vídeo 'Achas Que Chega'

O vídeo foca a dura realidade dos sonhos desfeitos; começa com o desfazer dos sonhos da terra e do sol, e por ação do homem - imagino eu que trabalhem livremente para o bem comum; uma sequência de imagens descarregadas do website www.pixabay.com sobre o nosso planeta e os danos que lhe causamos através da poluição, a terra a girar, em 4 planos, cada um sofrendo um aumento de imagem, um nascer do sol em velocidade acelerada, uma cidade moderna coberta por um nevoeiro de fumo, fábricas e centrais eléctricas produzindo mais poluição.

O fumo entra em espiral e transporta-nos até uma série de 8 fotogramas que acompanham o refrão,  imagens paradas sobre refugiados disponíveis para download no website www.gettyimages.pt, enquanto a letra da canção lembra: "tu já achas que chega, não quero que caias no oceano..."

Volta a música ao verso, e as imagens são de mais danos provocados pelo homem sobre o planeta, cortadas dos documentários 'Terrifying proof of global warming' (60 Minutes Australia), e ‘Global Warming 101’ (National Geographic) - são vídeos sobre o desgelo, o aquecimento global e os danos provocados pelo homem a todos os seres vivos da terra.

Volta o refrão com mais fotogramas sobre refugiados e os seus sonhos desfeitos, e depois a ponte, com mais imagens do planeta em desequilíbrio, retiradas desses documentários, o urso-panda simbolizando as espécies em extinção, sonhos desfeitos da própria natureza? 

Até que o vídeo se dirige para o fim, chega o último refrão, mais fotos sobre refugiados, e novamente o desgelo como "prova" do desastre eminente do nosso planeta, provocado pela ganância insaciável e descontrolada do homem de hoje.

Vídeo 'A minha casa'

O tema sugere a importância de um espaço-tempo para sonhar. Esse lugar pode ser representado de várias maneiras, e este vídeo passou por várias fases, vários caminhos foram tentados e abandonados, comecei por utilizar uma série de fotografias que encontrei no meu Google Photos sobre uma visita às grutas da moeda, em Fátima, nesses tempos trabalhava em engenharia de telecomunicações e ia frequentemente àquela zona em trabalho, e numa dessas ocasiões visitei essas grutas, que achei deslumbrantes, e tirei umas dezenas de fotografias. 

Achei que fazia sentido usar as grutas para o tema da minha casa, o Rapha, autor da letra, gostou da ideia por manter a coisa indefinida, já o Tó não achou, as suas palavras foram qualquer coisa como: 'só se fosse neandertal ou morcego'. Resolvi então manter a ideia mas só para a parte do RAP, que dura quase um minuto, mais propriamente 53 segundos.

Tinha também fotografias sobre casas, a minha de férias em Coruche, outras que fotografei na Bélgica de visita, no Kuwait enquanto lá vivia, mas a coisa não funcionou, abandonei e comecei de novo. A Mariana deu a ideia de usar caracóis, ou moluscos, daqueles que andam com a casa às costas, em vários cenários; ainda esbocei a tentativa, da qual sobrou um plano de 10 segundos, na ponte logo a seguir ao RAP, mas também abandonei esse caminho. E finalmente a Mariana propôs que a minha casa fosse o próprio planeta terra, e tudo começou a fazer sentido. Era um caminho já tentado no vídeo do "Achas que chega", mas de uma forma diferente, desta vez não íamos focar a destruição dos habitats, mas sim os próprios habitats que ainda existem em bom estado na natureza - escolhi imagens de bosques e cascatas, que descarreguei do website www.videvo.net. 

Quase a chegar ao fim do vídeo, uma mulher a olhar para uma queda de água junto ao mar, e no final um homem que olha o trânsito duma janela sobre uma rua movimentada, numa cidade moderna, de noite, o seu olhar não se vê, nem o da mulher, mas o dele imagina-se ausente, inquieto, insatisfeito, vazio, e o dela sonhador, contemplativo. 

Portanto, a minha casa é a natureza? E a minha casa na cidade não? Não é bem isso. Temos a mesma natureza que a natureza, passe o pleonasmo, viemos de lá, portanto apreciamos a natureza, gostamos dela. E somos pequenos nela. Ela é grande, grandiosa, e nós temos uma dimensão justa. Ela dá-nos abrigo, cuidados, a nós e aos animais. Podemos viver numa cidade, mas convém-nos saber isso, respeitar-nos, respeitar a natureza, os animais.

E será que a terra tem um sonho, um plano? E será que o Universo inteiro tem um plano? E que são os nossos planos quando comparados com um plano dessa dimensão? Da dimensão do sol? O sol terá um plano também? Ou levanta-se como quem vai ao emprego todos os dias com ar de frete, a repetir-se, sem sentido? Porque será que nunca sai da sua trajectória? Terá um plano, um sonho também? Eu sonho que tanto o sol como a terra têm um plano e um sonho, mas seja como for, sonhando ou não com isso, são capazes de nos proporcionar um espaço-tempo para estarmos, sim a nós homens, e para nós, apreciar esse espaço-tempo é merecê-lo.  

terça-feira, 1 de junho de 2021

Vídeo 'Entre a Espada e a Parede'

Andei a pesquisar cinema mudo, e acabei fatalmente no Charlot (ou será que se escreve Charlô?). Na dúvida, vou-lhe aqui chamar Charlie Chaplin. Achei piada a uma montagem que vi na internet de dois filmes mudos, a preto e branco é claro, um do Charlie Chaplin e outro do Buster Keaton, actor da mesma época mas menos conhecido. Ambos fizeram filmes sobre boxe, o do Charlie Chaplin passa-se numa sala de espetáculos de boxe, e o do Buster Keaton num ginásio de treino de boxe. 

E tal como tinha feito Vincenzo Occhionero no seu filme "Chaplin VS Keaton", também eu editei os dois em conjunto, escolhendo para o refrão o de Charlie Chaplin, e para os versos o do Buster Keaton. Achei qualquer deles um bom simbolismo para essa situação, em qualquer deles o nosso herói está entre a espada e a parede, ou seja, perante uma ameaça real e sem fuga possível.

A ideia foi também que fosse divertido, pois porque não parodiar com essa situação, em que todos nos encontramos por vezes? Saber rir de nós próprios (saber sonhar) quando estamos numa situação semelhante em que não temos escapatória possível (a realidade que se impõe) é uma arte que se aprende na prática, que nos permite primeiro relativizar a ameaça, depois esperar até que esta deixe naturalmente de o ser, e por fim rirmo-nos dela.

A ver no canal contentor21: https://www.youtube.com/watch?v=tmR5M0Aj7NY


 

The 10 songs of the album 'Ciclo Curvo' ('curved cycle')

These are the comments posted in Bandcamp along with the songs - to start selling on 12th May. 1. Sinceramente  means 'sincerely'. I...