Foi numa noite antes da pandemia que fui ver os Sereias ao Cais do Sodré, convidei o meu amigo Miguel para vir comigo ver a banda do meu primo do Porto que ia actuar ao vivo em Lisboa, achei que era o género dele e acertei, o Miguel adorou e eu também, o rock pesado, com um cantor a declamar os versos a gritar em vez de cantar, acompanhado por uma secção rítmica potente, sintetizadores, guitarras e vozes ao improviso, e as projeções e efeitos sonoros do IPAD do meu primo Francisco.
No dia seguinte estava com as minhas duas filhas, e fui com elas encontrar-me com o meu primo e com a banda dele no parque Eduardo VII, ele ia fotografar a banda junto à bandeira nacional gigante que ali estava, e depois disso fomos cada um para seu lado, e o Francisco veio comigo e com as minhas duas filhas até aos jardins da Gulbenkian ali ao lado, para falarmos e estarmos um bocado juntos. O Francisco é padrinho de batismo da Graça, a minha filha mais nova, agora adolescente, e apesar da distância faz o melhor que pode para manter o contacto.
E assim se explicam o vídeo e seus antecedentes: reparei que a Teresa dançava no jardim ao som da sua música interior, como por vezes faz, e que o Francisco sacou do seu IPAD e filmou; fez três filmes de alguns minutos, a 240 frames por segundo. Uns tempos depois, foi ele que teve a ideia de usar o filme dessa dança para o tema 'Ser o ser humano', comecei por lhe pedir para fazer a montagem, mas porque tinha muitos trabalhos à frente, acabou por me enviar o material e fui eu que fiz a montagem do vídeo.
Sobre a dança, que posso dizer? É original, tal como a Teresa. Como se vê, a Teresa tem uma condição congénita, que não é doença, chamada Trissomia 21, o que lhe dá certas características físicas que todos sabemos reconhecer, mas também psicológicas, que só quem conhece de perto alguém com essa condição pode avaliar, tais como uma inabalável confiança na vida, uma aceitação dos outros sem preconceitos, uma boa disposição contagiante, uma sensibilidade sempre disposta a perdoar, e a pedir perdão, e claro, nem tudo são virtudes, mas o seu estado de criança grande sem maldade permite-nos a todos desculpar a sua teimosia e mau génio, que 'dão forte e passam depressa'.
E essa sensibilidade manifesta-se nela na dança; desde sempre a ouvir rádio no carro, a caminho da escola, desde o infantário, ainda amarrada à cadeira de bebé, que vinha sempre a dançar. Hoje é adulta, pertence a uma companhia profissional de bailado, ganha o seu dinheiro e é um grande apoio para a sua mãe com quem vive, a quem ama sem julgamento, com uma fidelidade incondicional.
Para ver este vídeo - https://www.youtube.com/watch?v=LQXHedNOB8Y
Sem comentários:
Enviar um comentário