É o último tema do álbum mas foi por aqui que comecei, no que toca aos vídeos. Porque a própria música "saiu" do tema América - oferecido como bónus a quem comprar o álbum inteiro no Bandcamp - no América I consultei e segui as ideias do autor da letra, e no América II senti-me livre para fazer o que quisesse e assim, fiz o que me apeteceu. O mote é o sonho americano que virou pesadelo.
Como pano de fundo, um cenário de guerra, ou mais propriamente, de instrução militar, recruta que soldados americanos deram a tribos locais do Vietnam, a acompanhar o fornecimento do armamento, lê-se nas entrelinhas. Tem por isso um significado simbólico, a influência sob forma de instrução... militar. Nada de imagens muito aparatosas, apenas um cenário de recruta, um conceito militarista de ajuda humanitária. O documentário de onde cortei e colei as imagens a preto e branco que constituem esse pano de fundo tem um nome elucidativo: "DIRTY SECRETS of VIETNAM_ Montagnard Tribes Defend Southeast Asia". Este pano de fundo desmascara a política externa dos EUA durante a guerra-fria, que semeou a guerra por todo o mundo com objetivos dúbios, porventura o da venda de armas, influência política, poder?
Abordando as raízes do racismo interno nos EUA, fui acrescentando a esse pano de fundo mais sequências de imagens a preto e branco, cortadas e coladas de outros documentários, com relevância para o mítico discurso 'I have a dream' de Martin Luther King, que tem a particularidade de ser um vídeo sobre uma interpretação ASL (American Sign Language), chamado "Dr. Martin Luther King Jr.'s 'I have a dream' ASL rendition".
Mostra-se aqui e ali a criatividade das etnias africanas-americanas, com o jazz em Nova Iorque, em cenas a preto e branco cortadas do documentário "STAGED_ Exploring New York City's most iconic jazz clubs", e também através do desfile de carnaval cortado do documentário "Carnaval 2020_Super Esquenta Bateria Viradouro Mestre Ciça Campeã 2020", um cheirinho de Brasil a cores, afinal a letra não aborda só os EUA, mas também aspetos do Brasil.
Mais para o fim, outras imagens marcam a presença de povos empobrecidos ou marginalizados na sociedade americana, não só nas imagens do ambiente que rodeou o discurso 'I have a dream', como também nas imagens duma dança tradicional de índios nativos americanos executada por descendentes dos sobreviventes do genocídio da tribo Sherokee, cortadas do documentário "Ghost Dance Wounded Knee".
Ao longo da música, sobrepostos ao pano de fundo explicado acima, desfilam clips de alguns segundos a cores, quase todas descarregadas do website www.videvo.net: no início umas mãos a tocar congas em síncrono com a música, e depois outras ilustrações de alguns dos temas abordados na letra, nomeadamente a de um satélite em torno da terra, de um lobo, de helicópteros (mais guerra), da estátua da liberdade, de lixo na praia, de notas de dólar, e a acabar, de uma festa na praia. A música acaba com uma contagem decrescente de 5 a 0, e no final ouve-se um tiro de longa distância, uma alusão aos métodos encontrados por interesses maquiavélicos geralmente associados ao poder e ao dinheiro para silenciar vozes incómodas - tal como sabemos isso aconteceu vezes demais por aquelas bandas. Como comentou o Tó a propósito, 'está pesadito'... mas era essa a ideia.
Essa foi também a opinião inicial do 'You Tube Community Guidelines', que me enviou um email a dizer "aplicámos uma restrição de idade ao seu conteúdo"; embora as restrições não parecessem graves - não podia ser 'dinheirizado' (monetised), nem visto por menores de 18 anos - resolvi recorrer com argumentação dizendo que as imagens não eram de guerra nem apelavam à guerra, etc. - surpresa foi quando recebi, passado umas semanas, uma mensagem de email a levantar as restrições de idade e a reconhecer que afinal o meu conteúdo não violava as regras da comunidade. (!)